quarta-feira, 19 de julho de 2023

 

Revisitando o movimento fascista italiano da primeira metade do seculo XX

Antonio Gramsci (italiano) e José Carlos Mariátegui (peruano) representam uma ala do pensamento marxista que percebeu o fascismo (Itália 1922 Mussolini) como um movimento contra a luta e reivindicações do operariado italiano (socialista) cujas greves e ocupações de fábricas assustavam não só a elite burguesa, mas também a pequena burguesia. O movimento socialista era percebido como uma ameaça à democracia liberal e aos interesses da burguesia, que para o efeito contava com o apoio da pequena burguesia.

O fascismo italiano embora tivesse surgido inicialmente como um movimento de milícias prontas a atacar manifestações do operariado socialista, ascendeu ao poder com Mussolini, dado que este foi convidado pelo próprio rei de Itália a formar governo, ocupando o cargo de primeiro ministro.

Estes dois pensadores marxistas intuíram que a burguesia, receosa dos desenvolvimentos do movimento operário, iria preferir perder os anéis, mas ao menos salvar os dedos; sendo os anéis, metaforicamente falando, os direitos e liberdades que a democracia liberal prometia, e os dedos a sua riqueza que a persistência do sistema capitalista garantia.

Do lado do fascismo e dos fascistas, a base de apoio era a pequena burguesia, receosa da ameaça de proletarização; para a pequena burguesia, o fantasma do comunismo e do confisco da propriedade privada era o elemento mobilizador. A retórica do movimento fascista dirigia-se contra as elites, e por tal motivo dava-lhe uma aparência de antissistema, anticapitalista, mas de facto era apenas uma aparência, dado que em momento algum colocava verdadeiramente em causa os interesses do grande capital pois o seu inimigo era precisamente o socialismo, o operariado e suas reivindicações contra o qual assestava baterias.  

A interpretação de Gramsci e de Mariátegui foi clarividente e a extrema direita rapidamente percebeu que estava perante “elementos perigosos” a eliminar; em decorrência, tanto um como outro conheceram um destino trágico, o primeiro foi aprisionado às ordens de Mussolini em 1926 e morreu pouco depois de liberto em 1937; o segundo foi assassinado logo em 1930, aos 36 anos.

O clima social existente quando o fascismo italiano ascendeu ao poder  era um clima de desencanto das classes médias, particularmente médias baixas, com a democracia liberal e condições de vida então existentes: desemprego em alta, crise económica, falta de perspetivas de progressão social. Por outro lado, os próprios operários sentiram-se desiludidos com a tibieza dos líderes do movimento revolucionário em curso. Neste contexto, a demagogia fascista soube capitalizar o descontentamento destas camadas significativas da população, transformando o socialismo e os socialistas no inimigo a abater, o inimigo da nação, o bode expiatório do que corre mal - se forem derrotados tudo entrará novamente nos eixos.

Por seu turno, a elite capitalista rapidamente percebeu que tinha mais a ganhar do que a perder se apoiasse o fascismo e os fascistas; estes iriam fazer o trabalho sujo para ela e quando não mais fossem necessários poderiam ser descartados. Em circunstâncias difíceis, seria preciso sacrificar a democracia liberal que aliás era, como hoje continua sendo, de baixíssima intensidade.

Temos assim que a tese de que a base social do fascismo é pequeno burguesa, embora o back up seja o do grande capital - pormenor que é oportunamente subtraído - é bastante persuasiva.

Temos assim que o crescimento atual da extrema direita neofascista e sua incursão na área do poder político apresenta bastantes similitudes com as circunstâncias que propiciaram o desenvolvimento deste movimento no século passado.

Temos assim que deveríamos estar bem atentos para a história não se repetir!

Estaremos? Não me parece!

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