Revisitando o
movimento fascista italiano da primeira metade do seculo XX
Antonio Gramsci
(italiano) e José Carlos Mariátegui (peruano) representam uma ala do pensamento
marxista que percebeu o fascismo (Itália 1922 Mussolini) como um movimento
contra a luta e reivindicações do operariado italiano (socialista) cujas greves
e ocupações de fábricas assustavam não só a elite burguesa, mas também a
pequena burguesia. O movimento socialista era percebido como uma ameaça à
democracia liberal e aos interesses da burguesia, que para o efeito contava com
o apoio da pequena burguesia.
O fascismo
italiano embora tivesse surgido inicialmente como um movimento de milícias
prontas a atacar manifestações do operariado socialista, ascendeu ao poder com
Mussolini, dado que este foi convidado pelo próprio rei de Itália a formar
governo, ocupando o cargo de primeiro ministro.
Estes dois pensadores
marxistas intuíram que a burguesia, receosa dos desenvolvimentos do movimento
operário, iria preferir perder os anéis, mas ao menos salvar os dedos; sendo os
anéis, metaforicamente falando, os direitos e liberdades que a democracia
liberal prometia, e os dedos a sua riqueza que a persistência do sistema
capitalista garantia.
Do lado do
fascismo e dos fascistas, a base de apoio era a pequena burguesia, receosa da
ameaça de proletarização; para a pequena burguesia, o fantasma do comunismo e do
confisco da propriedade privada era o elemento mobilizador. A retórica do
movimento fascista dirigia-se contra as elites, e por tal motivo dava-lhe uma aparência
de antissistema, anticapitalista, mas de facto era apenas uma aparência, dado
que em momento algum colocava verdadeiramente em causa os interesses do grande
capital pois o seu inimigo era precisamente o socialismo, o operariado e suas
reivindicações contra o qual assestava baterias.
A interpretação
de Gramsci e de Mariátegui foi clarividente e a extrema direita rapidamente
percebeu que estava perante “elementos perigosos” a eliminar; em decorrência, tanto
um como outro conheceram um destino trágico, o primeiro foi aprisionado às
ordens de Mussolini em 1926 e morreu pouco depois de liberto em 1937; o segundo
foi assassinado logo em 1930, aos 36 anos.
O clima social
existente quando o fascismo italiano ascendeu ao poder era um clima de desencanto das
classes médias, particularmente médias baixas, com a democracia liberal e condições
de vida então existentes: desemprego em alta, crise económica, falta de
perspetivas de progressão social. Por outro lado, os próprios operários sentiram-se
desiludidos com a tibieza dos líderes do movimento revolucionário em curso. Neste
contexto, a demagogia fascista soube capitalizar o descontentamento destas camadas
significativas da população, transformando o socialismo e os socialistas no
inimigo a abater, o inimigo da nação, o bode expiatório do que corre mal - se
forem derrotados tudo entrará novamente nos eixos.
Por seu turno, a
elite capitalista rapidamente percebeu que tinha mais a ganhar do que a perder
se apoiasse o fascismo e os fascistas; estes iriam fazer o trabalho sujo para
ela e quando não mais fossem necessários poderiam ser descartados. Em circunstâncias
difíceis, seria preciso sacrificar a democracia liberal que aliás era, como hoje continua sendo, de baixíssima intensidade.
Temos assim que
a tese de que a base social do fascismo é pequeno burguesa, embora o back up
seja o do grande capital - pormenor que é oportunamente subtraído - é bastante persuasiva.
Temos assim que
o crescimento atual da extrema direita neofascista e sua incursão na área do
poder político apresenta bastantes similitudes com as circunstâncias que
propiciaram o desenvolvimento deste movimento no século passado.
Temos assim que deveríamos
estar bem atentos para a história não se repetir!
Estaremos? Não me
parece!
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