domingo, 16 de julho de 2023

 

Capitalismo – expropriação e exploração constituíram o método

Grosso modo, pode dizer-se, seguindo Marx[1], que o ponto de partida do modo de produção capitalista foi aquilo que ele designou de “acumulação primitiva”.

A acumulação primitiva - no sentido de básica, de originária - permitiu que a burguesia, emergente a partir da época moderna, acumulasse riqueza, particularmente propriedade fundiária, para de seguida a transformar em capital, recorrendo à exploração do trabalho e dos trabalhadores.

Neste processo, há dois momentos intimamente imbricados a considerar: por um lado a apropriação pela que virá a ser a elite capitalista de bens indispensáveis à produção – os meios de produção – e por outro a privação da vasta massa da população desses mesmos meios de produção que garantiam a sua subsistência – terra e recursos nela contidos.

Desse modo os produtores diretos (trabalhadores) ficaram na dependência daqueles que passaram a deter a posse e propriedade dos meios de produção (patrões/capitalistas); obviamente que essa dependência vai criar condições para que aqueles que apenas possuem capacidade de trabalho sejam explorados em benefício daqueles que detém os meios de produção. 

Resumindo o capitalismo pressupôs expropriação e exploração, sendo que a primeira criou condições para que a segunda ocorresse. Este processo foi particularmente violento na Inglaterra dos fins da época moderna (séculos XVII e XVIII). Marx debruçou-se sobre ele e nós iremos revisitar esse cenário para procurar perceber como as coisas se passaram. 


P.S. Hoje em vez de 'expropriação' falaríamos em 'privatizações'

[1] Capítulo XXIV do Volume I de O Capital

 

2 comentários:

  1. Exemplo, já no século XX, foi o caso dos pequenos proprietários rurais, mormente na região do Douro, que viram as suas terras serem-lhes usurpadas pelos de maiores recursos, por impossibilidade de pagarem pequenos empréstimos.

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  2. Obrigada pelo seu comentário que enriquece e permite perceber melhor o conceito e o modus operandi.
    É interessante que o conceito de acumulação primitiva ao remeter para algo básico e originário continua atual e revela-se em diferentes momentos e circunstancias porque é inerente e estrutural ao capitalismo, Nos nossos dias, as privatizações de bens que são de todos, muitas vezes por valores irrisórios, autentica privataria, para usar um neologismo muito sugestivo, são disso o exemplo mais conhecido com o qual estamos familiarizados; veja-se o caso dos CTT que até davam lucro e que foram entregues a privados que encareceram imensos os serviços para os utentes e que têm um atendimento muito mais deficiente para pouparem nos custos do trabalho.

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