domingo, 17 de setembro de 2023

 

Sobre o Movimento Woke e a Teoria Racial Crítica

Um dos aspetos do movimento Woke que mais enfurece o liberalismo e o conservadorismo cultural é o recurso e a divulgação dos princípios defendidos pela teoria racial critica, surgida nos Estados Unidos na década de oitenta do século passado e atualmente muito divulgada. Vejamos esses princípios, para de seguida concluirmos da sua ou não pertinência.

A Teoria racial crítica:

·        Identifica a população branca como privilegiada, alegando que a diferença racial sempre foi e continua a ser fonte de desigualdade social.

·        Defende que o racismo é sistémico e está na origem da opressão; que não é conjuntural, mas estrutural; ou seja, o racismo não é um preconceito que certos indivíduos manifestam, é algo bem mais profundo.

·        Considera que o racismo se manifesta na linguagem, nas ideias e nos comportamentos e práticas sociais; por exemplo, o facto de a população carcerária negra ser extremamente mais elevada que a branca é um sintoma de racismo existente na América.

·        Percebe a não discriminação como um verniz formal que não tem expressão na prática; as práticas continuam a ser discriminatórias: nas escolas, nos empregos, nas condenações criminais, etc.  

·        Conclui que aqueles que negam a supremacia branca ou o racismo sistémico e a discriminação devem ser considerados racistas; só negam estas realidades para que elas continuem a existir porque percebem que para as erradicar será preciso reconhecê-las primeiro e tomar em seguida as medidas necessárias.

Esta teoria, que encontra a diferença racial na origem da discriminação e desigualdade de tratamento a que os negros são sujeitos é suportada por forte evidência empírica e compete a quem não a aceitar o ónus da prova; todavia, há quem se lhe oponha e pretenda ver na origem dessa discriminação tão somente uma situação de inferioridade social dos negros em relaçao aos brancos: piores condições de habitação, de cuidados médicos, de escolarização. Mas esta resposta é falaciosa (beg de question) porque obriga a perguntar porque é que isso acontece, e não se encontra outra explicação a não ser o racismo sistémico que de facto desde sempre tem existido no país e que nunca foi seriamente encarado e contrariado a fim de se encontrarem soluções adequadas para o resolver.

Portanto dizer que esta teoria não deve ser ensinada nas escolas nem divulgada porque divide a sociedade norte americana e é elemento de desunião, bla bla bla, seria constrangedor se não fosse escandaloso! Todavia, grande parte da sociedade americana não vê o escândalo e culpa as vítimas por denunciarem o crime de que são vítimas. E não se pense que tal só acontece com a direita republicana mais ou menos extremista, também parte da esquerda democrática se sente desconfortável com o assunto e lá vai criticando o que designa de exageros e fanatismos. Um fenómeno lamentável a qualquer título.  


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