Neoliberalismo –
suas raízes, fundamento e estratégia
O neoliberalismo é
uma teoria de economia política que defende três princípios fundamentais: a
livre iniciativa individual com base na existência de direitos de propriedade
privada fortes; a existência de mercados livres; a não
intervenção do Estado por meio de quaisquer regulamentações que freiem esses direitos e liberdades, considerando pelo contrário que lhe compete assegurá-las,
ativamente, se necessário.
Dado a construção do
estado liberal - processo em curso lá pelos fins do século XVII no Ocidente - ter
sido liderada pela burguesia, não surpreende a ênfase no individualismo e na consagração
do direito de propriedade nem tão pouco a preocupação na defesa de uma economia
centrada no mercado, livre de impedimentos que o controlem, e numa intervenção
do Estado apenas aceite se servir os seus interesses. Portanto, parece legítimo
concluir-se que aquilo que hoje designamos de neoliberalismo já estava no bojo
do liberalismo clássico e que o projeto, em parte interrompido temporariamente
por circunstâncias muito especiais, seria retomado, como foi, tão logo estas
desaparecessem.
Assim, no plano
politico, o neoliberalismo defende que os direitos do individuo sejam
garantidos pelo Estado, sendo de entre estes o direito de propriedade privada
uma espécie de direito sacrossanto. No plano económico vai ainda mais longe
que o liberalismo clássico e ‘exige’ que o Estado tome medidas para criar
mercados livres em áreas em que eventualmente estes ainda não operem, caso por
exemplo, da energia, da saúde, da educação, da segurança social e outros,
entregando afinal a privados a gestão da ‘coisa pública’, e não ‘atrapalhando’ de
modo algum a iniciativa privada, hoje rebatizada frequentemente de ‘empreendedorismo’.
O fundamento/justificação
para a defesa da maior privatização possível da economia e da intervenção mínima,
mas devidamente direcionada, do Estado, reside na convicção de que tal será
mais benéfico para todos com o argumento de que o contrário, isto é, a
planificação estatal está mais sujeita a erros e a distorções, sob a alegação de que o Estado não
possui elementos suficientes para fazer previsões corretas e propende por esse
motivo a cometer erros grosseiros, ao passo que o mercado, por principio que
lhe é inerente, tenderia a autorregular-se de acordo com a lei da oferta e da
procura e a cometer erros menores e reversíveis – por obra da tal ‘mão
invisível’ de que já Adam Smith falava.
A estratégia adotada
para fazer vingar a sua posição visou transformar a ideologia que lhe preside
em senso comum, conseguindo que a generalidade das pessoas incorpore os valores
e os princípios que defende. O neoliberalismo percebeu que vence quem convence! E nós fazíamos bem em começar a ficar espertos.
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