Implantação e hegemonia do neoliberalismo –
uma explicação materialista histórica
De acordo com a interpretação materialista
da história, um fenómeno histórico acontece quando existem condições materiais
que o tornam possível e quando, no contexto circunstancial então existente, é
desejável ou necessário que aconteça. Foi isto que se passou com a implantação
do neoliberalismo na década de oitenta do século XX, no Ocidente.
Passemos a explicar; no pós-guerra (1945),
os Estados Unidos e seus satélites, em ritmos e graus
diferentes criaram o welfare state -
estado de bem-estar social. O objetivo foi o de apaziguar os conflitos entre
capital e trabalho e mostrar que o capitalismo afinal era capaz de criar
bem-estar económico generalizado, nada ficando a dever ao socialismo que a diabolizada
União Soviética se propunha implementar. Este período durou cerca de trinta
anos – 'os trinta gloriosos anos', como ficaram conhecidos. Mas não há bem que
sempre dure nem mal que nunca se acabe; isto é, “todo o mundo é composto de
mudança”, como disse o nosso Luís de Camões.
Assim, na década de setenta do século XX , o
capitalismo conheceu mais uma crise; surgiram os chamados choques do petróleo,
nomeadamente em 1973 e 1979, resultantes de decisões tomadas pelos países da
OPEP (organização de países exportadores de petróleo), e de desacordos
relativamente às políticas externas dos Estados Unidos e satélites que os
prejudicavam. Essas decisões tinham também como pano de fundo o facto de os países
exportadores começarem a acusar o cansaço de vender petróleo barato ao ocidente
industrializado, e de importarem deste produtos caros, acompanhado da perceção
de que a sua galinha dos ovos de ouro não iria durar eternamente.
Obviamente que energia muito mais cara, se nada
fosse feito, iria encarecer a produção do Ocidente e diminuir os lucros do
capital; ora o que se podia fazer era diminuir, para compensar, os direitos do
trabalho e os benefícios sociais de que as populações em geral e especificamente
os trabalhadores usufruíam e foi isto que esteve na origem da necessidade de se
rejeitar o keynesianismo e de se implementar uma economia neoliberal. Tal mostrava-se
necessário para manter os níveis desejados de acumulação de capital –
objetivo fulcral dos capitalistas; tal era possível porque os
trabalhadores se encontravam em situação de extrema vulnerabilidade para conseguirem
responder à altura.
De facto, como atras referido, a acumulação capitalista
teria de ser feita às custas dos prejuízos de outros, e os que estavam a jeito
eram precisamente os trabalhadores. Ora, no contexto de uma União Soviética que
começava a dar sinais nítidos de declínio, habilmente explorados pelos media
ocidentais, e que se veio a confirmar com a implosão do sistema nos finais da
década de oitenta, tudo se conjugava para que o neoliberalismo pudesse ser implantado
sem receio da reação dos trabalhadores que, órfãos da referência soviética e
fragmentados pelo desmantelamento dos seus órgãos representativos (sindicatos) se
transformaram em presa fácil para o sistema.
Pela mesma altura, as novas tecnologias de
comunicação (internet) facilitavam contactos a nível global e criavam condições
favoráveis para a exportação de indústrias para locais mais rentáveis para o
capital, deixando os trabalhadores do Ocidente em condições ainda de maior
vulnerabilidade para conseguirem resistir aos novos tempos.
Neste contexto as politicas neoliberais puderam
ser implantadas e o neoliberalismo foi-se refinando e expandindo; tornou-se
hegemónico e transformou-se paulatinamente na ideologia dominante que hoje
comemos ao pequeno almoço, almoço e jantar, se tivermos dinheiro para essas
três refeições; se não tivermos, paciência, não faz mal porque estaremos
demasiado ocupados com a nossa sobrevivência básica para nos ocuparmos de
outras matérias.
Bom texto, continue.
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