segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

 

Implantação e hegemonia do neoliberalismo – uma explicação materialista histórica

De acordo com a interpretação materialista da história, um fenómeno histórico acontece quando existem condições materiais que o tornam possível e quando, no contexto circunstancial então existente, é desejável ou necessário que aconteça. Foi isto que se passou com a implantação do neoliberalismo na década de oitenta do século XX, no Ocidente.

Passemos a explicar; no pós-guerra (1945), os Estados Unidos e  seus satélites, em ritmos e graus diferentes criaram o welfare state - estado de bem-estar social. O objetivo foi o de apaziguar os conflitos entre capital e trabalho e mostrar que o capitalismo afinal era capaz de criar bem-estar económico generalizado, nada ficando a dever ao socialismo que a diabolizada União Soviética se propunha implementar. Este período durou cerca de trinta anos – 'os trinta gloriosos anos', como ficaram conhecidos. Mas não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe; isto é, “todo o mundo é composto de mudança”, como disse o nosso Luís de Camões.

Assim, na década de setenta do século XX , o capitalismo conheceu mais uma crise; surgiram os chamados choques do petróleo, nomeadamente em 1973 e 1979, resultantes de decisões tomadas pelos países da OPEP (organização de países exportadores de petróleo), e de desacordos relativamente às políticas externas dos Estados Unidos e satélites que os prejudicavam. Essas decisões tinham também como pano de fundo o facto de os países exportadores começarem a acusar o cansaço de vender petróleo barato ao ocidente industrializado, e de importarem deste produtos caros, acompanhado da perceção de que a sua galinha dos ovos de ouro não iria durar eternamente.

Obviamente que energia muito mais cara, se nada fosse feito, iria encarecer a produção do Ocidente e diminuir os lucros do capital; ora o que se podia fazer era diminuir, para compensar, os direitos do trabalho e os benefícios sociais de que as populações em geral e especificamente os trabalhadores usufruíam e foi isto que esteve na origem da necessidade de se rejeitar o keynesianismo e de se implementar uma economia neoliberal. Tal mostrava-se necessário para manter os níveis desejados de acumulação de capital – objetivo fulcral dos capitalistas; tal era possível porque os trabalhadores se encontravam em situação de extrema vulnerabilidade para conseguirem responder à altura.

De facto, como atras referido, a acumulação capitalista teria de ser feita às custas dos prejuízos de outros, e os que estavam a jeito eram precisamente os trabalhadores. Ora, no contexto de uma União Soviética que começava a dar sinais nítidos de declínio, habilmente explorados pelos media ocidentais, e que se veio a confirmar com a implosão do sistema nos finais da década de oitenta, tudo se conjugava para que o neoliberalismo pudesse ser implantado sem receio da reação dos trabalhadores que, órfãos da referência soviética e fragmentados pelo desmantelamento dos seus órgãos representativos (sindicatos) se transformaram em presa fácil para o sistema.

Pela mesma altura, as novas tecnologias de comunicação (internet) facilitavam contactos a nível global e criavam condições favoráveis para a exportação de indústrias para locais mais rentáveis para o capital, deixando os trabalhadores do Ocidente em condições ainda de maior vulnerabilidade para conseguirem resistir aos novos tempos.

Neste contexto as politicas neoliberais puderam ser implantadas e o neoliberalismo foi-se refinando e expandindo; tornou-se hegemónico e transformou-se paulatinamente na ideologia dominante que hoje comemos ao pequeno almoço, almoço e jantar, se tivermos dinheiro para essas três refeições; se não tivermos, paciência, não faz mal porque estaremos demasiado ocupados com a nossa sobrevivência básica para nos ocuparmos de outras matérias.

 

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