Hegemonia e expansão do neoliberalismo – causas e
condições
Em primeiro lugar precisamos perceber que o
neoliberalismo não é na sua essência diferente do liberalismo e já estava no
bojo do liberalismo, só que a revolução
soviética de 1917, com a promessa de instauração de um regime socialista, levou
as democracias liberais a darem passos atrás e a fazerem cedências que se traduziram
no designado ‘estado de bem-estar social’.
O estado de bem-estar social implicou o reforço
do papel do Estado no controle da economia, retirando ao mercado setores que se
entendeu não deverem ser regidos pelo princípio liberal da oferta e da
procura. Todavia, tao logo as circunstâncias se alteraram, o neoliberalismo surgiu
e retomou o projeto liberal na sua pureza originária.
A partir daí, os anos de ouro de políticas
keynesianas (1930 -1970) foram postos de lado assim que se perceberam as
fragilidades da união soviética, o que foi precipitado pelas crises do petróleo
de 1973 e de 1979 que levaram a uma quebra significativa da acumulação
capitalista – leia-se lucros das empresas. Com estas crises, as elites
sentiram-se ameaçadas pois os seus lucros diminuíram muito e viram-se obrigadas,
para se manterem enquanto elites, a adotarem o novo programa.
O programa neoliberal começou a ser posto em prática a
partir dos finais da década de setenta, no Reino Unido com M. Tatcher e nos
Estados unidos com R. Reagan. Contou com instrumentos como o Banco Mundial e
como o Fundo Monetário Internacional (FMI), organização internacional que tinha
sido criada em 1944 na Conferencia de Bretton-Woods com o objetivo de ajudar a
manter estável o sistema monetário internacional e a emprestar temporariamente
dinheiro a países em crise. Esse fundo
foi inicialmente constituído por 29 países membros que para ele contribuíam e posteriormente alargado. Nesta instituição, o país que
praticamente tinha saído incólume da guerra - os Estados Unidos da América –
pode impor a sua perceção da economia e dos mecanismos que deviam ser adotados
para reequilibrar as contas públicas de países endividados - a famosa dívida pública.
O FMI constituiu a porta de entrada do neoliberalismo em muitos
países que endividados e precisando de dinheiro tiveram de se sujeitar para o
receber a adotar politicas neoliberais: privatizações, redução dos serviços
sociais do estado, reforma do mercado de
trabalho flexibilizando o emprego ou
melhor facilitando os despedimentos. Aquilo que na nova terminologia se designava
de ‘ajustamento estrutural’ exigia
sacrifícios às classes trabalhadoras tanto pela perda de direitos trabalhistas
como pela perda de direitos sociais - corte
direto e indireto dos direitos dos trabalhadores, obtido através da estagnação
dos salários e de cortes nos benefícios sociais, com o argumento de que o
Estado não podia continuar a ser perdulário e era preciso equilibrar as contas
públicas ( não se cogitava sequer que tal poderia/deveria ser feito através de impostos
progressivos sobre a riqueza e seus detentores).
Isto foi feito na América do Sul e posteriormente em vários
países europeus. Significou privatizações, entrada de investidores estrangeiros
que compram nas melhores condições para si mesmas as empresas a privatizar.
Neste contexto, por um lada a necessidade
sentida de criar circunstancias mais favoráveis ao capital e, por outro, a
possibilidade de o fazer, dado não haver condições de contestação, criaram o
clima perfeito para se instaurarem as políticas neoliberais que, de seguida,
através do aparelho cultural e das instituições acima referidas se tornaram hegemónicas
e que a potência que liderou o processo–
os Estados Unidos - pôde impor a muitos outros países, ou pela força pura e
dura (golpes de Estado) ou pela imposição de políticas económicas que esses países
não se encontravam em condições de recusar. Temos o exemplo do Chile no
primeiro caso, que afastou pela força o governo democraticamente eleito de
Salvador Allende, e de outros países. No segundo caso, também na América latina,
muitos países mergulhados em crise económica profunda viram-se obrigados a
apelar ao FMI e a aceitar as condições draconianas por este impostas.
Posteriormente na sequência da crise de 2008, Portugal, Grécia e outros países
europeus experimentaram a mesma pressão e foi-lhes prescrita a mesma receita.
Portanto, resumindo, na imposição e hegemonia
do neoliberalismo temos o choque petrolífero da década de setenta, o
empobrecimento de muitos países que foram alvo ou de golpes de estado ou da
imposição de políticas neoliberais para responder às crises por que passavam,
provocadas elas propiás pelo sistema capitalista, mas ‘pagas ‘pelo povo. Esta
situação foi resumida numa tirada que se tornou clássica, a qual diz que o
capitalismo, em tempos de 'vacas gordas', privatiza os lucros; em tempos de
crise, socializa os prejuízos.
Assim vai o mundo. Querem melhor? Então não esqueçam
que a inteligência é uma força mas que se
não ficarem espertos vão continuar a ser comidos pelos outros! Tão certo
como dois e dois somarem quatro.
"O capitalismo, em tempos de 'vacas gordas', privatiza os lucros; em tempos de crise, socializa os prejuízos". Esta frase devia ser escrita no metro, nos autocarros, nos jardins públicos, à porta dos bancos. O neo liberalismo agora também tem um grande aliado na comunicação social que é ela própria produtora e promotora da narrativa que vendem à opinião pública. Demonizam as greves e fazem crer que estas prejudicam os mais pobres. Desacreditam os serviços públicos e eligiam os privados. CNN Observador, todos.
ResponderEliminarSim, é deplorável que a esquerda de tao quebrada que está nem sequer tenha forças para meter a ridículo a narrativa neoliberal, ao menos isso, nem seriam precisos grandes recursos económicos bastaria começar a cultivar e a praticar a imaginação e a criatividade, e a classe docente está bem posicionada para o fazer e para estimular alunos e alunas nesse mesmo sentido. A linguagem neoliberal, a tal novilíngua a que a todo o momento recorre, poderia ser o ponto de partida. Por exemplo, com certeza ja ouviu falar em 'destruição criativa' para referir os despedimentos de trabalhadores, não? e esta é uma entre dezenas ou mais de outras expressões impiedosas que era preciso pôr a ridículo.
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