Capitalismo e acumulação de capital - a guerra como recurso
instrumental
No contexto do capitalismo que nos governa - ou desgoverna - o
que acontece é que as guerras funcionam como um mecanismo de acumulação de
capital - o fenómeno da ‘acumulação primitiva’ - por vias diferentes das que
inicialmente moveram os capitalistas da idade moderna (sobretudo nos séculos
XVII e XVIII). Estes por meios ‘legais’, preparados pela esfera política, apropriaram-se
de recursos e terras comunais cujo usufruto foi desse modo retirado aos
camponeses que se viam obrigados a emigrar para as cidades onde constituíam mão
de obra barata para as indústrias recém-criadas: matavam-se dois coelhos de uma só cajadada.
Mais ou menos pela mesma época, a exploração
colonial também funcionou com idêntico objetivo, o mesmo acontecendo nos nossos
dias com neocolonialismo e com guerras predatórias que, invocando a necessidade
de libertar povos, servem ao mesmo propósito.
Como caso de acumulação capitalista dos nossos
dias, o exemplo da guerra do Iraque é paradigmático; mostra como um pais – Estados Unidos - com um poder muito desigual, provoca uma guerra
para se apropriar das riquezas de outro pais (chama-se a isto acumulação
capitalista, neste caso acumulação para os capitalistas dos estados unidos, mas
também do próprio Iraque e obviamente para outros ‘players’, nome bonito hoje
muito em voga.
A guerra do Iraque consistiu na invasão do Iraque
– um pais independente e soberano - e na deposição do regime iraquiano liderado
então por Sadam Hussein, substituído de seguida por um regime de contornos
neoliberais (2003).
Essa invasão foi desencadeada no contexto do
que os Estados Unidos apelidaram de ‘guerra ao terror’, na sequência do ataque
as torres gémeas de nova York em 2001, sob o pretexto de que o Iraque possuía
armas de destruição maciça. Essa acusação nunca foi provada.
A comunidade internacional – leia-se países
gravitando na órbita dos estados unidos - não alinhou inteiramente como se
pretendia, mas mesmo assim a invasão foi posta em marcha e mais tarde, quando
se provou que as ditas armas não existiam, foi justificada como guerra
preventiva sob o pretexto de que iria servir para exportar a democracia para um
pais com um governo tirânico e autocrático e libertar o povo iraquiano.
Quando
estes factos históricos ocorreram, salvo algumas vozes incómodas e pouco
difundidas, todos se calaram, lembremos a célebre reunião na base americana
sediada na Lajes, território português, (Cimeira das Lajes: Tony Blair, Bush
filho, e Aznar que teve como anfitrião o
inefável Durão Barroso ) Então ninguém foi capaz de dizer que se estava perante
uma justificação maquiavélica; ninguém foi capaz de dizer que tal justificação
escondia motivações completamente diferentes que não interessava fossem reconhecidas.
As medidas adotadas logo a seguir à invasão e ao triunfo
norte americano não deixam dúvidas, só que os grande media as ocultaram
e não divulgaram e as pessoas não puseram em causa a explicação. Lembremos que
também o colonialismo da época moderna fora justificado com o argumento de se
estar a expandir a fé cristã e a civilização ocidental a povos primitivos que
não sabiam tomar boa conta de si mesmos. E então em nome da fé e da civilização,
as potencias ocidentais da época mataram, escravizaram e roubaram – pura
gatunagem e malvadez.
De facto, no Iraque, uma vez triunfante a invasão, foi
constituída uma ‘autoridade provisória da coalizão’ (2003) - uma espécie de governo provisório – que
decretou as seguintes medidas:
·
Completa
privatização das empresas públicas; (compradas por particulares a preço de
saldo, sendo o povo delas espoliado)
·
Direitos de
propriedade irrestritos para as firmas estrangeiras no Iraque (apropriação
irrestrita por estrangeiros dos recursos do pais);
·
Completa
repatriação de lucros obtidos por essas empresas (nada de investir no país os
lucros nele obtidos);
·
Abertura dos
bancos iraquianos a controlo estrangeiro (favorecimento da finança
internacional);
·
Eliminação de
barreiras comerciais (favorecimento do livre comércio para os mesmos do
costume).
Estas medidas são bem elucidativas dos objetivos que
presidiram à invasão; não têm nada a ver com democracia e têm tudo a ver com
saque e pilhagem; nada de novo sob a roda do sol, exceto que agora a pírula é
dourada com doses descomunais de hipocrisia.
Retomando a tese aqui defendida sobre a natureza
instrumental das guerras, quando os Estados Unidos invadem o Iraque e impõem
medidas como estas o que estão a fazer é a criar condições para que se dê a
acumulação capitalista tanto por parte de nacionais como de capitalistas
estrangeiros, é esta uma forma de continuar com o fenómeno da chamada
acumulação primitiva, ou seja continuar a engrossar o bolo, passando o que era
do povo para as mãos de privados, tudo em nome da justiça e da eficiência, com
o beneplácito do direito (do mais forte).
Como efeitos secundários vem a destruição do pais, instabilidade,
aumento do terrorismo e centenas de milhares de mortes.
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