Capitalismo
e mercado – riscos e perplexidades
O modo capitalista de produção,
centrado na propriedade privada dos meios de produção e na transformação do
trabalho em mercadoria, visa o lucro como objetivo prioritário do capitalista.
Malgrado este último aspeto – lucro como
objetivo prioritário - defende que o mercado, onde compradores e vendedores
interagem, é o instrumento ideal para regular de modo espontâneo todo o
processo produtivo; devendo para tal ser livre de interferências estranhas,
nomeadamente da interferência e controlo do Estado - a liberdade do mercado é uma
espécie de dogma. O pressuposto é que espontânea e livremente vendedores e
compradores tomarão decisões que permitirão estabelecer de forma harmónica e
equilibrada o valor de troca dos produtos apresentados, de acordo com a lei da
oferta e da procura.
Segundo esta lei, o valor de troca do
produto dependerá da quantidade disponível (oferta) e do maior ou menor interesse
dos compradores em adquiri-lo (procura). Quer dizer, é o mercado que forma o
preço e tal é defensável porque o mercado autorregula-se espontaneamente.
Através desta narrativa, que tem sido
constantemente inculcada, o
mercado é apresentado como uma instituição autónoma que corresponde a uma realidade universal e, sempre que se quer cercear as críticas aos rumos da economia,
entra em ação. Assim, por exemplo, diz-se que o poder político não pode/deve controlar os preços dos produtos de primeira necessidade
– tabelar preços – porque a resposta dos mercados a tal medida seria avassaladora. Diz-se por exemplo que o que deve condicionar a subida
ou descida dos juros deve ser o funcionamento do mercado, não as necessidades
das pessoas. E dizem-se muitas outras coisas …
Tudo se passa como se os mercados
fossem extraterrestres e nada houvesse a fazer a não ser segui-los
obedientemente, esconde-se desse modo que são em primeira e em última instância controlados por
interesses de determinadas pessoas: banqueiros, grandes
corporações, grandes proprietários fundiários,
numa palavra, a elite económica dominante. O que se passa com
o mercado no ramo dos bens de primeira necessidade, acima referido, ocorre do mesmo modo com os mercados financeiros que, sob o carimbo da
autorregulação, sobem e baixam taxas de juros em conformidade com os interesses
de grupos económicos e de conjunturas históricas e políticas, o que obviamente
aponta no sentido da sua manipulação.
Por isso, de facto, tem de se admitir que o mercado aqui em referência não é uma realidade universal e intemporal, mas antes uma construção histórica situada no tempo e no espaço, que se revela útil ao sistema capitalista porque, sob um nome respeitável, esconde interesses inconfessáveis.
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