A existência de ricos e de pobres - mérito de uns, demérito de outros!
Para abordar o tema em epígrafe, escolhi dar-vos a conhecer um excerto de Marx, que
complemento com a minha interpretação e apreciação critica .
“Em tempos muito remotos, havia, por um
lado, uma elite laboriosa, inteligente e sobretudo parcimoniosa, e, por outro,
vagabundos dissipando tudo o que tinham e mais ainda. A legenda do pecado
original teológico conta-nos, contudo, como o homem foi condenado a comer seu
pão com o suor de seu rosto; a história do pecado original econômico, no
entanto revela-nos por que há gente que não tem necessidade disso. Tanto faz.
Assim se explica que os primeiros acumularam riquezas e os últimos, finalmente,
nada tinham para vender senão sua própria pele. E desse pecado original data a
pobreza da grande massa que até agora, apesar de todo o seu trabalho, nada
possui para vender senão a si mesma, e a riqueza dos poucos, que cresce
continuamente, embora há muito tenham parado de trabalhar.”
Marx. O Capital, cap. XXIV p. 339.
A existência de
ricos e de pobres não é um fenómeno dos nossos dias; tanto quanto podemos
remontar no tempo sempre existiu. Tal acontece porque as pessoas são diferentes,
algumas têm certas qualidades: inteligência, capacidade de trabalho e de previsibilidade;
outras, pelos vistos a vasta maioria, são: pouco inteligentes, preguiçosas e, não olhando
ao futuro, gastam tudo o que no momento têm. Dado este contexto em que a vida
da humanidade decorreu, esta situação social - ricos de um lado, pobres do
outro - é justa porque é baseada no mérito de uns e no demérito de outros.
Utilizando uma analogia com o pecado original para que a Bíblia remete, pode dizer-se que o
pecado económico original consistiu em que a maioria não trabalhou o suficiente,
preguiçou bastante, gastou tudo e por isso foi condenada a trabalhar perpetuamente; os
outros – uma minoria - escaparam ao castigo e podem viver sem trabalhar ou pelo
menos ocupando o seu tempo de uma maneira que no mínimo é prazerosa para eles,
já que tem antecipadamente assegurada a sua subsistência.
Este pecado económico
original permite compreender a acumulação de riqueza e de recursos nas mãos de apenas alguns e o facto de os outros terem de se lhes sujeitar e de se vender (vender a
sua força de trabalho) para subsistirem.
Em poucas, mas
brilhantes palavras, Marx, recorrendo à ironia como figura de estilo, faz nos
perceber como através dos tempos se tem perpetuado o sistema social de classes, justificado de uma maneira inteligível para a maioria das pessoas que aceita
essa justificação como muito plausível porque parece corresponder ao que é
justo - à ordem natural das coisas.
Todavia, se
refletirmos um pouco, é fácil reconhecer que não há mérito nenhum em ser
mais inteligente e mais diligente; de facto, são qualidades positivas, é certo,
mas ninguém escolheu nascer com elas dotado nem escolheu nascer numa família e
num meio social que cria um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.
O mérito e o demérito
não são critério de justiça, nada há de justo ou injusto neles. A justiça tem
de ser balizada por outros critérios e estes passam por criar condições de subsistência
para todos e por assegurar, também para todos, condições que permitam que não sejam
oprimidos por outros e possam desenvolver o seu potencial – isto é, aquilo que
podem vir a ser e a realizar de positivo nas suas vidas.
Sem comentários:
Enviar um comentário