sábado, 1 de abril de 2023

 


A existência de ricos e de pobres - mérito de uns, demérito de outros!  

Para abordar o tema em epígrafe, escolhi  dar-vos a conhecer um excerto de Marx, que complemento com a minha interpretação e  apreciação critica .

“Em tempos muito remotos, havia, por um lado, uma elite laboriosa, inteligente e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos dissipando tudo o que tinham e mais ainda. A legenda do pecado original teológico conta-nos, contudo, como o homem foi condenado a comer seu pão com o suor de seu rosto; a história do pecado original econômico, no entanto revela-nos por que há gente que não tem necessidade disso. Tanto faz. Assim se explica que os primeiros acumularam riquezas e os últimos, finalmente, nada tinham para vender senão sua própria pele. E desse pecado original data a pobreza da grande massa que até agora, apesar de todo o seu trabalho, nada possui para vender senão a si mesma, e a riqueza dos poucos, que cresce continuamente, embora há muito tenham parado de trabalhar.”

Marx. O Capital, cap. XXIV p. 339.

A existência de ricos e de pobres não é um fenómeno dos nossos dias; tanto quanto podemos remontar no tempo sempre existiu. Tal acontece porque as pessoas são diferentes, algumas têm certas qualidades: inteligência, capacidade de trabalho e de previsibilidade; outras, pelos vistos a vasta maioria, são:  pouco inteligentes, preguiçosas e, não olhando ao futuro, gastam tudo o que no momento têm. Dado este contexto em que a vida da humanidade decorreu, esta situação social - ricos de um lado, pobres do outro - é justa porque é baseada no mérito de uns e no demérito de outros.

Utilizando uma analogia com  o pecado original para que a Bíblia remete, pode dizer-se que o pecado económico original consistiu em que a maioria não trabalhou o suficiente, preguiçou bastante, gastou tudo e por isso foi condenada a trabalhar perpetuamente; os outros – uma minoria - escaparam ao castigo e podem viver sem trabalhar ou pelo menos ocupando o seu tempo de uma maneira que no mínimo é prazerosa para eles, já que tem antecipadamente assegurada a sua subsistência.

Este pecado económico original permite compreender a acumulação de riqueza e de recursos nas mãos de apenas alguns e o facto de os outros terem de se lhes sujeitar e de se vender (vender a sua força de trabalho) para subsistirem.

Em poucas, mas brilhantes palavras, Marx, recorrendo à ironia como figura de estilo, faz nos perceber como através dos tempos se tem perpetuado o sistema social de classes,  justificado de uma maneira inteligível para a maioria das pessoas que aceita essa justificação como muito plausível porque parece corresponder ao que é justo - à ordem natural das coisas.

Todavia, se refletirmos um pouco, é fácil reconhecer que não há mérito nenhum em ser mais inteligente e mais diligente; de facto, são qualidades positivas, é certo, mas ninguém escolheu nascer com elas dotado nem escolheu nascer numa família e num meio social que cria um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.

O mérito e o demérito não são critério de justiça, nada há de justo ou injusto neles. A justiça tem de ser balizada por outros critérios e estes passam por criar condições de subsistência para todos e por assegurar, também para todos, condições que permitam que não sejam oprimidos por outros e possam desenvolver o seu potencial – isto é, aquilo que podem vir a ser e a realizar de positivo nas suas vidas.

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