O discurso populista - estratégia e
objetivos
O discurso populista (da
extrema direita) - vide em Portugal o caso do CHEGA - para ganhar a adesão
popular explora os sentimentos de frustração das populações atribuindo as
causas do mal-estar social que estas experimentam a fatores como (1) a
corrupção, (2) a existência de elites políticas bem-pensantes, mas que se estão
nas tintas para o povo e (3) a entrada de emigrantes no país.
O objetivo é conquistar
apoio popular que lhe permita chegar ao poder através de eleições; a estratégia
é explorar a afetividade e não a razoabilidade das pessoas, fornecendo
respostas simples para os problemas, respostas intuitivas que se oferecem a um
pensamento imediato que não as escrutina.
As explicações fornecidas são
simples, mesmo simplistas, porque ignoram a complexidade do problema; mas são
reconfortantes porque na sua simplicidade o apresentam como facilmente
resolúvel; são, todavia, falsas porque não identificam as suas verdadeiras causas, mas apenas circunstâncias coadjuvantes. Perceber isto é
imprescindível para uma tomada de posição consciente, mas a maioria das pessoas
milita na desinformação e vota com base nessa desinformação que interessa
precisamente à elite dominante, representante de facto dos interesses do
capital, mas que pode sempre alegar legitimidade porque afinal foi confirmada
pelo voto popular.
De facto, embora as causas que se
encontram na origem das frustrações sentidas pelas pessoas estejam ligadas à corrupção,
às elites politicas dirigentes e a fenómenos migratórios, decorrem acima de tudo do modo de
funcionamento do sistema económico capitalista porque é este, reparemos, que gera a corrupção, isto é, que corrompe; é este que manipula as elites politicas para estas
defenderem os interesses dos capitalistas e é este que espolia povos de outras
regiões dos seus recursos naturais, de tal modo que estes se veem
impossibilitados de viver nas suas próprias terras e procuram a sobrevivência
em outras paragens.
Com isto quero dizer que o
capitalismo consegue a proeza de mistificar a real situação que determina a
vida social, isto é, consegue escamotear os fatores económicos, que são
primários, para colocar os fatores políticos, que são derivados, na ribalta,
levando as pessoas a pensarem que a responsabilidade pelo que corre mal é do
sistema político, é dos políticos e, em última análise, da própria democracia.
Esta mistificação torna difícil
reconhecer verdades incontestáveis:
·
De
facto, só existe corrupção política porque os capitalistas precisam que os
políticos aprovem medidas que os favoreçam, isto é, existe corrupção porque há
corruptores. Logo, para eliminar a corrupção há que eliminar os corruptores – é essa
a chave da questão;
·
Por
outro lado, a elite política, genericamente falando, tem interesses
coincidentes com os dos capitalistas pois que a democracia liberal teve desde
sempre um problema de representatividade; isto é, começou por representar só os
proprietários e ainda hoje são fundamentalmente os filhos da burguesia que
ascendem ao poder político, não os do povo, logo está muito longe de ser uma democracia de facto: um governo do povo, para
o povo e pelo povo. Logo para eliminar este problema haveria que encontrar
mecanismos que garantissem que os representantes políticos representam o povo e
não tao somente os capitalistas e os seus interesses - que é o que efetivamente acontece;
·
Quanto
aos emigrantes, facilmente se percebe que invocá-los para explicar os desaires
que os nacionais experimentam é mero recurso à estratégia do bode expiatório,
para aliviar a pressão e permitir que o ódio se dirija para estes e não para os
responsáveis pela situação.
Ora enquanto o capitalismo existir e
os capitalistas forem os detentores do poder económico, o qual por sua vez lhes
permite dominarem o aparelho cultural, nomeadamente os órgãos de informação, a mistificação
vai continuar e muito provavelmente governos populistas vão dar uma ajuda
preciosa à manutenção do sistema, recorrendo, se necessário, à força e a uma
ordem política que supúnhamos já superada.
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